REPORTAGEM ENALTECE SÃO CARLOS COMO MODELO DE PESQUISA E TECNOLOGIA
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O caderno “Mercado” do jornal Folha de S. Paulo de domingo (25) destacou, em reportagem de uma página, o ambiente acadêmico e o potencial de desenvolvimento tecnológico de São Carlos. A reportagem do jornalista Nelson de Sá traça um perfil do município, que por meio das universidades como a USP e a UFSCar, tem estimulado a formação dos “doutores-empreendores”, fruto da união entre universidades, centros de pesquisa e parques tecnológicos.

 

Em entrevista, o prefeito Oswaldo Barba menciona a impressionante marca de 14,5 patentes registradas por 100 mil habitantes em São Carlos, enquanto a média estadual é de 7,6 por 100 mil e no Brasil a média chega a 3,2. A reportagem destaca que o prefeito levou ao Ministério da Defesa um projeto para reunir as várias tecnologias criadas no setor aeronáutico. Além do Centro de Manutenção da TAM e a Embraer em Gavião Peixoto, a cidade possui, na USP, o curso de Engenharia Aeronáutica, fábrica de veículos aéreos não-tripulados e possui curso de tecnólogo em manutenção de aeronaves no IFSP (Instituto Federal de São Paulo).

 

O texto explica que a criação da USP e da UFSCar foram determinantes para a consolidação de São Carlos como “Capital Nacional da Tecnologia”. Afirma que a eleição de Newton Lima, ex-reitor da UFSCar, em 2000, contribuiu na consolidação da união entre cidade e universidades.

 

Jarbas Castro, da Opto Eletrônica, uma das primeiras empresas que surgiram desse ambiente universitário e acadêmico, professor Vanderlei Bagnato, coordenador da Agência USP de Inovação, e a empresa AGX, que fabrica veículos aéreos não tripulados foram outros personagens da matéria. (Leia matéria no site da Prefeitura)

 

 

Veja matéria da Folha de S.Paulo de domingo, 25

 

Caderno “Mercado”

 

São Carlos avança como modelo de pesquisa e tecnologia

 

Estímulo a 'doutores-empreendedores' faz município paulista crescer como metrópole e 'cluster' tecnológico. Ambiente acadêmico voltado a pesquisas aplicadas e apoio da população são fatores do desenvolvimento

 

Para quem volta à cidade após duas décadas, São Carlos, a 232 quilômetros de São Paulo, está irreconhecível. As velhas casas que abrigavam repúblicas estudantis sumiram, trocadas por prédios. Nas ruas, o trânsito está mais agressivo. E você vai ao cinema do shopping Iguatemi.

O que a tornou tão parecida com São Paulo foi sua afirmação como "capital nacional da tecnologia" ou "do doutor-empreendedor", expressões usadas para tentar descrever a união de universidades, centros de pesquisa e parques tecnológicos.

São Carlos se desenvolveu como "cluster", concentração geográfica de formação, pesquisa e produção cujos modelos célebres são o Vale do Silício, nos EUA, e Seul, na Coreia do Sul. É como Vanderlei Bagnato, professor da USP São Carlos e coordenador da Agência USP de Inovação, descreve sua cidade.

"É hoje um cluster tecnológico de grande importância para o país", diz. "Temos ambiente universitário com diversidade de temas, grande número de cientistas com espírito empreendedor, e a população tem orgulho e não vê o avanço como prejudicial." O professor da USP destaca os setores de novos materiais, ótica e biotecnologia.

O prefeito Oswaldo Barba, ex-reitor da UFSCar (Federal de São Carlos), onde se formou engenheiro de materiais e se doutorou em engenharia química, diz que "no cenário nacional" já se pode falar em cluster, citando a média de 14,5 patentes por 100 mil habitantes -a média nacional é de 3,2, e a paulista, de 7,6.

Mas "no cenário internacional ainda não", acrescenta, afirmando que "é preciso ainda ter a consolidação dos parques tecnológicos, estimular mais os pesquisadores a ser empreendedores".

Bagnato também quer mais, para "acelerar o que começamos, com um grande instituto de tecnologia". Barba, que é do PT, levou ao Ministério da Defesa um projeto de reunir as várias frentes abertas em tecnologia aeronáutica: centro de manutenção da TAM; linha de produção militar da Embraer, na vizinha Gavião Peixoto; fabricação de veículos aéreos não tripulados; cursos de engenharia aeronáutica (USP) e tecnologia em aeronaves (Instituto Federal de Educação).

 

CHOQUE CULTURAL

 

As criações da USP nos anos 50 e da Federal nos anos 60 foram os marcos iniciais da "capital da tecnologia". Nos 80, surgiu a primeira de várias incubadoras de empresas, o ParqTec. A primeira eleição de um ex-reitor como prefeito, Newton Lima, em 2000, selou a união da cidade com suas universidades.

Hoje são empresas saídas das salas de aula, as "spin-offs", como descrevem, que estão à frente do processo.  Uma das primeiras foi a Opto Eletrônica, de Jarbas Castro. Ele se formou em São Carlos e viajou para o doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology) no fim dos anos 70. "A universidade era fechada ao ambiente empresarial. Fui para o MIT e foi um choque cultural."

O MIT é visto como modelo para inovação, unindo academia e empresa. "Tinha 15 colegas lá e os trabalhos que envolviam alguma geração de riqueza recebiam atenção absurda do orientador", conta.

Voltou para seguir em pesquisa básica, "mas já com espírito de que não era pecado" fazer pesquisa aplicada. Em quatro anos, lançou a Opto e hoje relata que emprega 70 funcionários só em pesquisa e desenvolvimento, "16 Ph.D.s e uns 20 e poucos mestres".

Bagnato prega equilíbrio. "Eu mesmo faço pesquisa básica, com fluidos quânticos. Inovação não é trocar ciência básica por aplicada, mas não perder as chances para que a ciência vire bons negócios para a sociedade brasileira."

Daniel Vanzella, cientista da cidade com mais repercussão no exterior hoje, publicou em 2010 na "Physical Review Letters", a principal em sua área, cosmologia. Sua teoria ecoou em revistas como a "New Scientist", com enunciados como "Gravidade tem poder de gerar monstros de quantum".

"Quando se fala em São Carlos, vem à mente polo tecnológico, não a parte teórica. Só que uma coisa que São Carlos me deu, e não é fácil achar, foi a compreensão de que cada área tem seu ritmo. Isso é uma tranquilidade, de pensamento, que não são todos os lugares que dão."

 

Veículo aéreo não tripulado mira mais mercados

 

Tecnologia que mudou a indústria de Defesa dos EUA, a pesquisa dos veículos aéreos não tripulados (vants) começou em São Carlos nos anos 90, na USP, junto com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Luciano Neris, diretor da AGX e doutor em engenharia elétrica pela USP, onde participou das pesquisas, diz que "o foco sempre foi criar sistema de baixo custo, para coletar imagem de área agrícola e ambiental".

A maior clientela hoje é de fazendeiros e prestadores de serviços, mas a empresa "tenta galgar novos mercados". Doou um vant ao Exército e mantém parcerias com a polícia ambiental paulista.

A AGX produz os modelos Tiriba (pequeno) e Arara (médio), para coleta de imagens, e desenvolve um maior, com aporte de R$ 8 milhões da Finep, em parceria com a Orbisat, que já faz radares para o Exército. O Sarvant terá "radar de abertura sintética" para monitorar a Amazônia.

Já a Embrapa Instrumentação desenvolve aplicativos para vants, relata o pesquisador Lúcio André de Castro Jorge, doutor pela USP São Carlos e responsável pelos sistemas apresentados na CeBit, feira mundial de tecnologia da informação realizada na Alemanha.

 

'Capital semente' ainda engatinha no município

 

O portal de artesanato Elo7 foi criado por ex-alunos da UFSCar, Juliano e Mônica Ipólito, e virou símbolo do boom de "startups" (empresas iniciantes) apoiadas por "venture capital" (capital semente) no país, atraindo os fundos americanos Accel e Insight.

Embora tenha desenvolvido a "vocação" para internet na cidade, Juliano estabeleceu o Elo7 -e foi descoberto pelos fundos- em Campinas.

O capital semente privado ainda está distante de São Carlos, que por ora se apoia em órgãos de fomento, como Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Um dos motivos é a presença relativamente pequena de "startups" de tecnologia da informação, o maior alvo dos fundos -embora a cidade tenha empresas que atuam na área de produção de games.

Em outros setores, já é possível achar sinais de "venture capital" privado. É o caso da Nanox, de nanotecnologia, nascida na UFSCar. Gustavo Simões, químico pela universidade, diz que recebeu aporte do fundo brasileiro Novarum, o que permitiu estruturar a empresa.

E lançar "uma partícula que se adiciona ao plástico e mata bactérias e fungos". Já com patente americana, a Nanox vai à NPE (National Plastic Exposition), nos Estados Unidos.



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