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Trabalho digno e respeito ao meio ambiente.




CENTRAL DE TRIAGEM EMPREGA 22 PESSOAS

Desde setembro do ano passado, quando a Prefeitura começou o trabalho de contenção da enorme voçoroca que ameaçava destruir a EMEB “Afonso Fioca Vitali”, o Caic, Tereza Alves Ribeiro, de 74 anos, trabalha na Central de Triagem e Disposição Final de Resíduos de Construção, conhecida como entulheira, localizada no bairro Cidade Aracy. Apesar da idade, dona Tereza mostra um grande vigor físico e se orgulha em dizer que com o dinheiro obtido no recolhimento de papelão, ferro e madeira, uma média de R$ 300 mensais, consegue sustentar os dois netos, além de pagar as prestações de um terreno no Cidade Aracy.

“Esse trabalho foi uma bênção para todos nós. Antes a gente trabalhava no lixão do Antenor Garcia sem condições e sem segurança nenhuma”, lembra Tereza, que no lixão ficava exposta à sorte ao ter que dividir o espaço na coleta de entulhos com viciados e pessoas envolvidas em crimes. “Hoje é bem diferente. Aqui na entulheira a gente tem segurança e equipamentos para se proteger. Eu não pretendo sair tão cedo da entulheira”, completa.

O casal Albertina Alves e Luiz Lucas reclamava que o emprego era escasso em outras atividades. Todos os dias eles recolhem toda a espécie de material reciclável. Praticamente nada é desprezado. Telhas e tijolos que sobram da construção e são armazenados nas caçambas são revendidos pelos próprios catadores. Restos de madeira utilizados na construção de casas se transformam em lenha para alimentar fornos de padarias e pizzarias. “Eu cansei de mandar currículo, ninguém te dá uma chance de provar a sua capacidade. Foi só aqui, na entulheira, que consegui recuperar a minha dignidade e auto-estima”, acredita dona Albertina.

Antes de conseguir se instalar em São Carlos e ser cadastrada para trabalhar na entulheira, Albertina viveu outro drama. Perdeu a casa em um incêndio em Franco da Rocha. “Fiquei arrasada, claro, não podia ser diferente. Tive de recomeçar minha vida em São Carlos e me julgo uma pessoa de sorte. Hoje recolho o material que vem da caçamba e encontro compradores dos recicláveis e da madeira todos os dias”, disse, orgulhosa. Ela e o companheiro conseguem uma renda que gira em torno de R$ 400.

Esses são dois exemplos das 22 pessoas que trabalham na Central de Triagem e Disposição Final de Resíduos de Construção, conhecida como entulheira, localizada no bairro Cidade Aracy. A Central foi criada por meio de um trabalho coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia, articulado com as secretarias municipais de Cidadania e Assistência Social, Obras e Serviços Públicos, Saúde e Prohab (Progresso e Habitação de São Carlos). Possui autorização da Cetesb, DEPRN e Ministério Público, que compreenderam a importância do empreendimento para frear a degradação ambiental que atinge o bairro.

Todos os dias aproximadamente 120 caçambas são depositadas na entulheira. Cerca de 600 toneladas diárias de resíduos da construção civil já contribuíram para evitar a destruição do campo de futebol ao lado do Caic e a quadra de esportes do estabelecimento de ensino. O assessor ambiental da secretaria, Ismael Ferreira, espera que nesse ritmo, em dois anos, a voçoroca esteja completamente fechada. “Depois disso os trabalhadores vão utilizar a estrutura da entulheira, pois a intenção é que eles trabalhem em sistema de cooperativa para a coleta de materiais reciclados. Trabalho não vai faltar para esse pessoal e a Central de Triagem vai ser utilizada durante muitos anos”, observa.

O diretor do Departamento de Polícia Ambiental, Paulo Mancini, explicou que antes da entulheira a disposição de resíduos da construção civil era feita de maneira inadequada e não havia disciplina no depósito do material. “O lixo industrial e o doméstico eram misturados ao da construção civil, e isso não acontece na entulheira. Quando surge o lixo não condizente ao que é depositado na voçoroca há a separação. É importante dizer que hoje a disposição de lixo é feita de forma correta, dá garantias de preservação da escola e é licenciada pela Cetesb”, esclarece.

Mancini relatou que por mais de 15 anos as águas pluviais e o esgoto do bairro desembocavam na voçoroca, aumentando ainda mais o impacto ambiental. “Galerias foram construídas pela Prefeitura e em breve serão construídos interceptores que direcionarão o esgoto para a Estação de Tratamento de Esgoto”, explica. O secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia, Emerson Leal, explicou que a Central de Triagem recebeu investimentos de R$ 200 mil, mas o ganho ambiental que a região recebeu é inestimável. “A entulheira tem se tornado uma fonte de geração de emprego e renda para esses trabalhadores”, acrescenta.

No local, é permitida a entrada de apenas alguns tipos de resíduos. Aqueles não conformes são enviados ao Aterro Sanitário Municipal ou ao gerador (caso sejam resíduos industriais ou que possam apresentar algum risco). Os resíduos são triados pelos catadores, que separam material reciclável, madeira, alumínio e ferro para reutilização ou comercialização. São comercializados tijolos em bom estado, lenha, ferragens, tubos e reciclados em geral como plástico, papelão, vidros e metais.

Estudos
A questão educacional não é deixada de lado pelos trabalhadores da entulheira. Entre 12h e 14h, 15 deles participam das aulas do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), um projeto que é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Os catadores de reciclados também recebem cuidados para a manutenção da saúde e são cadastrados em programas de assistência social. “Os trabalhadores e as famílias são amparadas e têm supridas todas as suas necessidades. Hoje eles reconhecem a atenção que o município dá ao grupo”, diz Ismael.

Descaso
Antes da inauguração da Central, os entulhos eram depositados indiscriminadamente no antigo lixão do Antenor Garcia e prevalecia o descaso das administrações anteriores, que utilizaram por cerca de 20 anos esse local sem controle dos resíduos descartados. A área sofria risco de deslizamento de terras e promovia degradação ambiental pelo descarte irregular em área não autorizada, ocasionando constantes queimadas no local. Os catadores também trabalhavam sem equipamentos de proteção individual (EPIs), desorganizados, com alto risco de sofrer acidentes, num ambiente sem cobertura para o sol e chuva e sem banheiro.

Hoje o local tem um barracão de 300 m², pátio de operação, e os catadores possuem equipamentos de segurança e uma infra-estrutura com guarita da portaria (cedida pela USP), plantas ornamentais e parte da grama reutilizada de cargas depositadas no local, dois banheiros (feminino e masculino), copa e cozinha e escritório de trabalho.

(13/07/07)
 
 

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