» COMUNIDADES JAPONESA E ITALIANA JÁ FORAM ESTUDADAS |
A Fundação Pró-Memória, órgão da Prefeitura responsável pela preservação do patrimônio histórico da cidade, está desenvolvendo uma pesquisa sobre a imigração sírio-libanesa em São Carlos. A diretora presidente da instituição, Ana Lúcia Cerávolo, lembra que a iniciativa dá prosseguimento ao projeto de levantamentos sobre as etnias que formaram a cidade, projeto que já concluiu dois trabalhos, um sobre os imigrantes italianos e outro sobre os japoneses. Ana Lúcia enfatiza que a pesquisa reafirma o empenho da administração em recuperar memórias de pessoas, grupos, instituições e comunidades étnicas que compõem a cidade. Inicialmente, o pesquisador Júlio Roberto Osio e a historiadora Leila Massarão, ambos da Fundação, trabalharam na pesquisa historiográfica, levantando a bibliografia da imigração dos sírio-libaneses para o Brasil e, em especial, para o Estado de São Paulo e para São Carlos. Ao mesmo tempo, estudaram as características culturais e de organização social dessas etnias. O coordenador da Unidade de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação, Marco Antônio Leite Brandão, contribuiu reunindo uma série de menções aos sírio-libaneses feitas em jornais são-carlenses. Em seguida, foi iniciada a segunda fase do levantamento, usando o método da história oral, com a coleta de depoimentos de imigrantes e seus descendentes. A meta é prosseguir a fase de entrevistas até o início do próximo ano e organizar uma exposição em 2006. Até agora foram entrevistados membros de seis famílias de imigrantes: Kebbe, João, Dibo, Damha, Kabbash e Jorge. Depoimentos de outras famílias estão sendo agendados. Os pesquisadores ressaltam que contribuições ao projeto serão bem-vindas, sejam fotos, documentos ou depoimentos que registrem a chegada e os primeiros tempos da vida dos sírio-libaneses em São Carlos. Quem puder disponibilizar algum material deve procurar os pesquisadores na Estação Cultura (antiga Estação Ferroviária, Praça Antônio Prado, s/n) ou entrar em contato pelo telefone 3372-2959. Cultura e tradições Segundo as pesquisas iniciais, os sírio-libaneses começaram a chegar ao Brasil por volta de 1880 e a São Carlos no início do século 20. A historiadora Leila Massarão comenta que nas entrevistas já realizadas “verifica-se a grande importância que os sírio-libaneses tiveram para o desenvolvimento do comércio da cidade; como o patriarca Abrahão João, que no seu armazém, junto ao Mercado Municipal, colaborava com os colegas, guardando dinheiro até da comunidade japonesa, que tinha diversos pontos de venda no local”. Os relatos mostram que os imigrantes sírio-libaneses, em sua maioria, dedicavam-se à pesca, pastoreio ou agricultura nos países de origem, mas no Brasil adotaram a atividade comercial como mascates, em razão do baixo investimento inicial exigido e da possibilidade de um rápido retorno financeiro. Depois começam a estabelecer suas lojas. O cronista Eduardo Kebbe afirma, em texto de 1991 do jornal A Tribuna, que “o comércio de São Carlos, como o de numerosas outras cidades brasileiras, tinha como expressivos representantes os imigrantes árabes, podendo-se dizer que 90% da rua General Osório eram constituídos de ‘lojas de turcos’, como se dizia então”. Outra característica da comunidade imigrante sírio-libanesa, segundo Leila Massarão, “era o convívio intenso entre as famílias, com reuniões diárias, cada dia na residência de uma delas, comemorando aniversários, noivados, casamentos ou mesmo sem uma razão formal para a festa”. Nas entrevistas verificou-se que as famílias mantinham também muitos contatos com outros imigrados em todo o Estado. Para o sociólogo Júlio Roberto Osio, outros aspectos abordados pelo levantamento são o cultural, envolvendo a língua árabe, a música, a culinária e a religião. Osio destaca que, na culinária, os sírio-libaneses trouxeram padrões que estão presentes hoje no cotidiano de todos nós, como os petiscos quibe e esfiha e pratos como os “charutos” de repolho, além de inúmeros doces, muito apreciados. “Uma surpresa para nós foi ficar sabendo que os homens da família reuniam-se semanalmente para ler a Bíblia, em árabe”, diz Osio, esclarecendo que “todas as famílias que entrevistamos até agora eram ou são até hoje cristãs-ortodoxas”. No depoimento de Aduar Dibo - da “Coluna do Adu”, que circula em jornais são-carlenses, explica o pesquisador - ficou evidente a influência do pensamento árabe sobre os descendentes dos imigrantes sírio-libaneses. Aduar Dibo relatou que o pai contava histórias árabes que o marcaram para toda a vida e ainda hoje, cerca de 70 anos depois, ele sempre publica um preceito árabe em sua coluna de jornal. (19/09/05) |